TDAH: Reflexões e Benefícios do Tratamento
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é amplamente discutido em diversas abordagens clínicas, sendo frequentemente compreendido pela perspectiva neurobiológica. No entanto, é fundamental adotar um olhar que ofereça uma visão singular sobre o transtorno, deslocando o foco de um quadro puramente neuroquímico para uma compreensão que inclua o sujeito, sua história, seus desejos e suas relações.
Os sintomas do TDAH devem ser analisados não apenas como alterações funcionais do cérebro, mas como manifestações de conflitos psíquicos subjacentes. A dificuldade em manter a atenção, a impulsividade e a hiperatividade podem ser entendidas como expressões de uma subjetividade em busca de organização, onde as demandas provenientes dos valores e das estruturas que organizam a sociedade e a subjetividade (família, escola, sociedade) confrontam o desejo singular do sujeito.
Não se deve negar a contribuição de fatores biológicos, mas é imprescindível considerar que os sintomas sempre se inserem em um contexto simbólico. Por exemplo, a dificuldade de atenção pode estar ligada a situações de angústia ou à dificuldade de significar experiências psíquicas, enquanto na hiperatividade pode haver uma tentativa de lidar com um excesso pulsional não simbolizado.
No tratamento psicológico do TDAH, é essencial dar voz ao sujeito, ajudando-o a compreender e elaborar os significados latentes aos seus sintomas. Esse processo não é apenas um alívio imediato, mas promove transformações duradouras na forma como o sujeito se relaciona consigo mesmo e com o mundo. Os efeitos alcançados transcendem o foco nos sintomas e ampliam a experiência do sujeito em diversos campos da vida.
Os Benefícios Incluem:
1. Ressignificação dos Sintomas: Ao explorar as causas psíquicas dos sintomas, o paciente pode compreender sua trajetória de forma mais profunda, reduzindo a angústia e a culpa.
2. Fortalecimento do Simbólico: Através da palavra, cria-se um espaço para simbolizar experiências antes vividas como intrusivas ou caóticas.
3. Melhora na Confiança em Si Mesmo: A compreensão do sujeito sobre si mesmo possibilita um olhar mais acolhedor e menos punitivo em relação às suas dificuldades.
4. Elaboração de Estratégias Subjetivas: Ao se reconhecer como parte ativa no processo de transformação, o paciente aprende formas singulares de lidar com suas limitações e potencialidades.
Sucesso na Prática Clínica
Em minha experiência clínica, o tratamento de pacientes com TDAH tem alcançado efeitos expressivos. Muitos pacientes relatam avanços significativos na organização de suas rotinas, na qualidade de seus relacionamentos e na capacidade de lidar com as demandas do cotidiano. Famílias também relatam melhorias na dinâmica familiar, muitas vezes marcada anteriormente por conflitos e incompreensões.
Um ponto central desse êxito é a criação de um espaço terapêutico seguro, onde o paciente se sente livre para explorar suas dificuldades sem medo de julgamento. É nesse espaço que muitas transformações acontecem, pois o sujeito pode se reconectar com sua história e encontrar novos sentidos para o que antes parecia um impasse.
O acompanhamento terapêutico oferece ao paciente com TDAH não apenas um alívio dos sintomas, mas a oportunidade de reencontrar-se consigo mesmo, construindo caminhos de maior autonomia, criatividade e produtividade. Essa abordagem tem se mostrado uma ferramenta valiosa para lidar com as demandas que o TDAH apresenta, trazendo benefícios que transcendem a esfera clínica e impactam positivamente a vida de forma ampla.
Um Caso Clínico: Jovem com Diagnóstico de TDAH
Certa feita, recebi no consultório um jovem que chegou com o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Naquele momento, ele trazia queixas relacionadas à dificuldade de manter o foco em seus estudos, problemas no ambiente de trabalho e desafios em seus relacionamentos, especialmente no âmbito amoroso e familiar.
Logo nas primeiras sessões, a direção do tratamento não se limitou a lidar com os sintomas característicos do TDAH, mas também buscou explorar as questões subjetivas que atravessavam sua vida. Com isso, o próprio paciente adentrou em sua biografia de uma forma que ele nunca tinha se deparado. Criou-se um espaço terapêutico onde o jovem pôde se escutar e ressignificar experiências que o marcaram. Nesse processo, foi possível identificar angústias ligadas à cobrança por desempenho, ao medo de falhar e à dificuldade em sustentar seus desejos frente às demandas externas.
Com o avançar do tratamento, o jovem passou a apresentar passos significativos em vários campos de sua vida. A organização de sua rotina foi um dos primeiros sinais de melhora. Ele conseguiu estabelecer e sustentar um relacionamento amoroso, algo que antes considerava inalcançável devido à sua dificuldade em lidar com frustrações e conflitos. No campo profissional, demonstrou maior estabilidade, conseguindo não apenas manter seu emprego, mas também destacar-se por sua dedicação e criatividade.
A relação com os estudos também foi transformada. Aos poucos, ele passou a encontrar formas mais eficazes de se organizar, reduzindo a sensação de sobrecarga e aumentando sua possibilidade de concentração. No convívio familiar, as tensões diminuíram, e ele conseguiu reconstruir laços afetivos que antes pareciam desgastados. Essa melhora nas relações foi acompanhada por uma maior compreensão mútua e um ambiente mais acolhedor.
Ao longo do processo terapêutico, o diagnóstico de TDAH, que inicialmente ocupava um lugar central em sua narrativa, foi deslocado para o pano de fundo. As questões subjetivas e simbólicas que permeavam sua história ganharam destaque, revelando uma complexidade que transcende qualquer rótulo diagnóstico. Essa abordagem permitiu que ele acessasse novas formas de se relacionar com seus sintomas e com o mundo. E, com isso, o que se nomeia de TDAH teve uma melhora substantiva.
Hoje, o jovem continua seu tratamento e relata uma melhora considerável em sua qualidade de vida. Ele afirma ter mais clareza sobre as questões que o afligem e êxito nas situações trazidas ao tratamento. Ressalta que o diálogo com o terapeuta é franco e conduzido de forma que sua palavra tenha o papel central. Também destaca que o espaço terapêutico valoriza profundamente sua escuta e sua fala.
Embora os traços do TDAH ainda possam surgir em algumas situações, eles não mais definem quem ele é ou limitam suas potencialidades. Este caso exemplifica como a escuta e a abordagem centrada na singularidade do sujeito podem promover transformações profundas e duradouras, além de abrir novos horizontes para a vida psíquica e relacional.
Edson Zaghetto